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Entrevista

Entrevista Dr. Lair Ribeiro – Janeiro 2024

By 18 de Julho, 2024Julho 19th, 2024No Comments

“…vejo-me nos próximos anos a fazer o que tenho feito nos últimos 50 anos – ajudando o próximo a prevenir doenças e a saber como curá-las….

Formado em Medicina há mais de 45 anos, cardiologista, o Dr. Lair Ribeiro é autor de mais de 100 trabalhos científicos publicados em revistas médicas americanas indexadas, e publicou 38 livros, disponíveis em mais de 40 países. Ao longo de mais de 20 anos, proferiu palestras em diversas cidades brasileiras, vários países da América e Europa. Treinou mais de 4000 médicos brasileiros na área de Adequação Nutricional e Otimização da Homeostase. Com a Saúde Actual, partilhou a sua opinião relativamente ao estado da saúde no mundo e, embora não se classifique «pertencendo a nenhuma escola médica específica» e procure «ensinar aquilo que tem funções preventivas», considera que «o conceito de medicina integrativa torna-nos menos reducionistas e isso só ajuda tanto o paciente quanto o médico».

 

SAÚDE ACTUAL: Qual é a sua opinião sobre o estado da saúde no âmbito mundial e específico no Brasil?

LAIR RIBEIRO: O mundo e o Brasil não têm um sistema de saúde, mas sim um sistema de doença. Adoecer é, na realidade, resultado de um longo processo, que se desenvolve em quatro diferentes fases, conhecidas como: fase energética, fase sensorial, fase funcional até chegar à fase estrutural, onde de facto a doença se estabelece.

Para o sistema médico, em geral, a pessoa só é diagnosticada quando a doença já está manifestada, ou seja, na fase estrutural.

As anteriores, como é possível perceber, não são consideradas.

Considerando o adoecimento resultado de um processo, fica mais fácil compreender que um cancro de próstata, por exemplo, não se manifesta de repente. São quase 20 anos de evolução para que ele chegue ao que está hoje. Isso significa que se um paciente hoje está com cancro de próstata, ele já tinha esse cancro há pelo menos 5 anos.

Por isso, a prevenção e o diagnóstico precoce são tão importantes no quadro evolutivo de uma doença. Sob essa perspectiva, entendemos porque tanto o Brasil quanto o resto do mundo ainda deixam muito a desejar.

 

SA: No seu entender, a medicina integrativa pode ajudar a melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas? Qual será o seu futuro?

LR: Acredito que, nesse caso, somente o tempo o dirá.

O problema de inovar o nosso modo de pensar traz coisas boas e não tão boas.

Dizer hoje que pratico medicina integrativa não faz de mim um médico melhor.

Muitas inovações na nomenclatura acabam por se tornar pejorativas e perseguidas pela sociedade médica e muitos médicos não treinados no assunto acabam por prejudicar a reputação da nova abordagem. Eu não me classifico pertencendo a nenhuma escola médica específica. Procuro ensinar aquilo que tem funções preventivas.

Saber diagnosticar corretamente e buscar a melhor abordagem terapêutica, que varia de um paciente para outro, é a base de uma boa medicina, independentemente do nome que ela receba. Além disso, precisamos de respeitar a individualidade bioquímica de cada um, ou seja, o que é remédio para um pode ser veneno para outro. O médico, portanto, deve focar-se em tratar o paciente como um todo e não a doença por si mesma. O conceito de medicina integrativa torna-nos menos reducionistas e isso só ajuda tanto o paciente quanto o médico.

 

SA: Como se sente ao ajudar o ser humano a melhorar o seu estado global e como tem superado as dificuldades?

LR: Não é uma tarefa fácil. Tenho 52 anos de formado. Tive a oportunidade de publicar mais de 100 trabalhos científicos em revistas médicas americanas indexadas, 42 livros – com 26 traduzidos em mais de um idioma – e uso as redes sociais para compartilhar as minhas ideias e atingir diferentes públicos.

Com a finalidade de disseminar ainda mais conhecimento, em setembro, estarei, juntamente com mais três colegas da área, a ministrar o curso sobre cancro, na cidade do Porto, sem fins lucrativos.

Sei que, através dessa iniciativa, estou a dar mais um passo importante no meu propósito pessoal e profissional, que é transformar a vida das pessoas de uma forma alegre e poderosa com amor e sabedoria. Este ano, completo 79 anos de idade e ainda conto com muita energia para ajudar todos os que precisam.

 

SA: Pouco sabemos sobre esse tema tão importante, por isso, gostaria que o senhor descrevesse a relação dos dentes com o estado geral do organismo.

LR: O médico, em geral, vê um corpo sem boca. Por outro lado, o dentista vê uma boca sem corpo. O novo conceito de odontologia biológica é fazer a integração boca-corpo-boca. Isso ajuda a tratar melhor os pacientes e aumenta a interação entre médicos e dentistas, o que é bom para ambos e, principalmente, para os pacientes.

Uma doença pode começar na boca e manifestar-se no resto do corpo ou pode começar no corpo e ter uma manifestação na boca. Esse conceito vem conquistando, nos últimos anos, um interesse cada vez maior em vários países, incluindo Alemanha, Suíça, Estados Unidos, entre outros.

Em junho, o Brasil será sede do 1.º Congresso Internacional de Odontologia Biológica. Portugal encontra-se bem à frente de nós no que se refere a esse tema, realizando, inclusive, inúmeros congressos nos últimos anos. Esse conceito, aliás, já está bem estabelecido no país, representado pela formação do médico-dentista.

De forma geral, noto que a odontologia biológica tende a evoluir rapidamente, uma vez que a publicação de livros e trabalhos científicos sobre o tema está a aumentar exponencialmente.

 

SA: Qual será o tema do curso que o senhor irá ministrar no Porto e quais são suas perspectivas?

LR: O nosso próximo curso em Portugal ocorrerá no mês de setembro, organizado pela Dra. Anabela Peres de Sousa (https://integrativeacademy.pt). Trata-se de um evento sem fins lucrativos, sendo a maior parte do dinheiro arrecadado doada para a Instituição ACREDITAR – Apoio a crianças e jovens com cancro. Tentamos, através dessa importante iniciativa, levar informação aos interessados e ao mesmo tempo ajudar crianças com cancro.

Por se tratar de algo tão relevante, o curso CANCRO – UMA OUTRA VISÃO pretende mostrar que – apesar dos tratamentos disponíveis – a mortalidade mundial por cancro sofreu quase nenhuma alteração nos últimos 50 anos. Queremos conscientizar as pessoas de que existem outros caminhos e que o cancro é, na realidade, uma doença metabólica.

 

SA: Pode dizer-nos qual seria hoje sua percepção sobre o futuro, não somente relacionada com a saúde, mas também com a humanidade? Qual é seu sonho?

LR: Eu considero-me um otimista, mas creio que o planeta Terra ainda vai piorar antes de melhorar. Assim como todos, tenho acompanhado a chegada de inúmeras inovações. Com certeza, elas oferecem uma série de contribuições, mas acredito que teremos um preço a pagar por isso. O maior exemplo nesse sentido é a inteligência artificial.

Pessoalmente, estou quase com os meus 79 anos, uma fase em que temos mais histórias para contar do que coisas para fazer. Mas, por ter plena consciência do meu propósito de vida – aquele que mencionei anteriormente – vejo-me nos próximos anos a fazer o que tenho feito nos últimos 50 anos – ajudando o próximo a prevenir doenças e a saber como curá-las, sempre que possível e com os melhores recursos disponíveis. Faço isso no curso de pós-graduação da Uningá – Centro Universitário lngá – com a aprovação do MEC – Ministério de Educação e Cultura do Brasil.

Viver em benefício do próximo é uma regra da natureza. Como já dizia o poeta: “os rios não bebem das próprias águas, as árvores não comem seus próprios frutos, as flores não emanam aroma para si mesmas e o sol não brilha para si próprio. A vida é muito mais feliz quando os outros estão felizes por nossa causa”. Amor e sabedoria para todos nós!

 

SAÚDE ACTUAL EDIÇÃO Nº114 – JULHO/AGOSTO 2024